quinta-feira, 31 de março de 2011

Cada poema

Cada poema é um grito
um rito, um libertar constrito
uma reza, uma oração
uma benção de uma musa
uma felicidade profusa
que brota sem razão
cada poema
é um tijolo
com o qual construo meu castelo de ilusão.

Ao meu amor

Foto Henri Cartier Bresson


´´O amor é madeixa que desata``
é sim corda que ata ao destino
é força que mata o desatino
é sorrir tal qual menino, travesso
é alma ao avesso, exposta
é certeza, é aposta
é o sumo, o equilíbrio, o prumo
também o humo que nutre, adubo
é o gestual do mudo
é a vibração que da som ao surdo.


 Amor?
É minha magia preferida
é partir-se a cada partida
ficar sem um pedaço
cada vez que desata o laço
de meu corpo em teu corpo
unidos pelo amplexo,
silencioso, sem lexo
capaz de definir o teu abraço.

Amor?
É que sinto,
forte e alucinante absinto
verde esperança  que alcança
confiança no que ainda não tenho
(mas que em ti pressinto ).

Amor?
É teu nome no meu peito
palpitante qual tambor
quando lembro-te em meu leito:
Tu alvo e ávido
eu moreno langor
pura felicidade
lembrança de saciedade
um eterno dia de alegria

 Amor?
Eu e tu, simplesmente, poesia
prazer e ausência de dor.
Simples, como simples é o Amor!

Após ler Mário de Sá Carneiro
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v411.txt

domingo, 27 de março de 2011

O que é real?

 
Foto Ansel Adams


Claustro corpo limitante
irritante matéria
vida mais etérea,  energia
desorganização
entropia, caos, sopa de letras
proteico amálgama de alma
universo nos dedos da mão
luz em vielas pretas
big bang das emoções
massa condensando cinzenta
das órbitas às circunvoluções.
Vida,
sou vida,
muito além das simples ações.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Vida plena

Fotos Henrri Cartier Bresson


Que seria de mim sem a poesia?
lápide morta, mármore pedra fria?
seria eu uma mítica sereia 
tentada a morrer nua à areia?

Pois fora da poesia não sou nada
sou apenas uma mulher mal inventada
desejos de mãe, sonhos de pai, vida de filho,
cotidiano que se esvai, vida no trilho
sou trem sempre no rítmo monótono
sou o bêbado ébrio com  único copo
vício de vivier sem pricipício
sou princípio do que fui desde o início
menina bonita, sem desejo ou alma aflita
sou apenas prurido que não coça, nem irrita
Sou um mapa, não um tapa, ou ousadia
sou apenas uma máquina: anestesia
Ah, na poesia!
sou cor, sou tudo, sou suave veludo
sou fala de alguém que viveu mudo
sou valquiria cavalgando a mais valia
Ah... imaginário mundo maravilhoso e  surdo
onde grito com prazer minha agonia
preencho com palavras a vida vazia
com fonemas eu sou tudo que queria
sou música nas letras, profanas tetas
de lexo em meu louco nexo, sexo e alegria
na poesia, apenas na poesia...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pretensão

Foto: Henri Cartier Bresson


Cada um tem um nicho natural
e um bicho gutural
que mora dentro da garganta.
Cada um tem grito do mal
e um sussurro sobrenatural
que acalma e encanta.
Cada um é uma corda
que une
também uma horda
que pune
que luta e cansa.
Cada um tem uma velha sábia
e uma criança com lábia
que diverte e espanta.
Cada um tem um mundo fecundo
d´onde nasce tudo que existe
e um cataclismo rotundo
tem um pouco que desiste.
É a vida que alterna
nesta luta interna
de ser-se alegre
ou tornar-se triste
A mim?
Tudo me cabe,
a pureza de quem não sabe,
o ardil de quem maneja o sabre,
a força-palavra
que revolve, lavra,
planta, colhe e persiste
impávida, com a idéia em riste.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu e os outros.


 Foto Robert Capa
No umbigo
o centro gravitacional
o limite impreciso
deste espaço vital
o epicentro do cismo
o sopé do abismo
entre o eu  e o social
a foz do nós,
do psiquismo universal.

apenas uma luz

 Foto Ansel Adams

Somos apenas luz
energia em condensação
dançando pixels pelo universo
ondulantes serpentes
serpenteando o eixo do tempo
fissão do núcleo do sentimento
fóntos disfarçados de gente
em ânsia urgente
por alguma órbita certeira
alguma trajetória revelada inteira
alguma explicação verdadeira
um motivo, um objetivo, uma ordem
somos orda de luz em desordem
somos elétrons elétricos
sem norte ou explicação
cavalgando algum spin
ao céu da vida
até o dia de chegar ao fim
desta louca trajetória mal referida.

Sentido de ser poeta.

Foto de Sebastião Salgado

A poesia me da voz onde sou muda
sabedoria de quem não sabe, nem estuda
é ecos austrais, tempo idos, imemoriais
é mil segredos dos poetas imortais.

Ser poesia, como poesia é, a guiza de ser morta
serei poesia em cada linha da vida torta
nas ruínas tristes das minhas civilizações
nos ventos indecisos, monções das emoções.

Sou poesia para vencer o rio do medo
sou poesia por não saber ser mais nada
sou poesia para saber que morrer é cedo

para não querer a vida vã e acabada
sou poesia para não ser um engano ledo
ter vivido, sem nunca ter sido amada.

terça-feira, 22 de março de 2011

Inveja

Foto Henri Cartier Bresson



Por de trás da cara de alface
um alce
dando cabeçadas
enquanto as batatas são assadas
ao fogo do olhar bovino
ânsia voraz do suíno
deglutindo lavagem de segredos
não sobra um osso dos medos
alheios
jantar aos chiqueiros
brilhantes, vivos, irriquietos
sobra dos afetos
(que a alimentam)
pantomima de lady Di
enquanto olha, sorri
fuça e simplesmente...die!
porque morrer é seu destino natural
viver pálida e anêmica
transparente característica principal.

quinta-feira, 17 de março de 2011

lutando com o absurdo


Foto: Henri Cartier Bresson

Para enfrentar o absurdo
fiz um escudo
de aço e imaginação
vesti uma armadura de cansaço
depois de chupar um limão
coloquei minha cara mais feia
estufei a veia
insuflei raiva no pulmão.
Gritei bem alto
fiz dos ouvidos dos outros palco
da  ética um refrão
peguei uma lança envenenada de estética
montei no pensamento alazão
cavalguei nua pela lua
em trote de rima pobre
disfarçada de cavaleiro nobre
lutei contra a calma e a mansidão
bebi de toda a minha loucura
deixei de viver em vão!

Tristeza


 Foto Henry Cartier Bresson
Morre em mim
possibilidade
luzes de noites
cidade
apaga-se a vida, inteira
nem mercado,
nem feira, nem banca
nem anca, nem frente,
nem boca, nem dente
só fome,
em manhãs prazenteiras
sem prazer
sem amor, sem dor
sem mais nada a dizer
Zero-hora, sem hora
sozinha à cabeceira
segundas, terças, quartas,
de quinta, sem primeiras
noites que não embalaram
olhos que não se iluminaram
apenas iluminura
um haikai filho
que de mim sai
um estribilho feito de ai
sem pranto
espanto
eu lua,
luta, espera
ele vento,
em convento
convicto e santo
eu nua
levanto,
saio pela porta
é  noite,
a rua está morta
o destino:
uma linha torta.

Pulso

O universo pulsa em um verso
pura energia
o verso pulsa confesso
é amor, é magia.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Sombra


foto Henri Cartier Bresson



Porque zombas de mim?
sombra arlequim de minhas visões
porque pulsas sem mim?
sombra botequim, elocubrações...
Sombra que tomba
estica ao chão
sombra que bomba
luz sem propagação
sombra, sombra
ausência de luz
contorno sem definição
sombra que espreita
as formas de minha mão
sombra de mim
apenas figura
recheada de ilusão.
Sombra na arte
apenas uma parte
que define a luz
sombra descarte
sem brilho,
apenas estribilho
refrão que não reluz
repetição sem face
escuro capuz.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Passos

Passam os pássaros
passos sem tempo
passo-me aos teus passos
pásssaros no
pé-de-vento
vento no espaço
no teu passo
perco o tempo
apenas, vento, vento, vento
eu um pássaro
passando no  teu momento.

Desejo

Foto: Frank Capa


Sede!
corpo cede
imberbe desejo
solfejo de flauta
flácida
em rítmo monofásico
doce visão:

ela ácida
ele básico
ávida
reação.

Mulher


Foto: Richard Avedon

Feita de ossos
e articulações
olhos e visões
músculos, nervos, vasos,
impulsos avulsos
divulsas pulsações
soma de erros, coxas e acasos
varizes e vasos
acertividade das emoções
branca de neve
em jornada breve
procurando a cabana dos anões.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Amor por definição

Foto Henri Carier Bresson

Amor, é incoerente,
sem escolha
não se aprisiona em garrafa
não se detém com  rolha
não se pesca com tarrafa
frágil bolha
flutua, brilha,
voa ágil
É vida suave
é ave
migra sem bússula para o norte
incerto como a morte
não se compra
nem se  monta,
é  erva selvagem
sem cultivo
nasce da aragem,
sem motivo.
Amor?
É a sorte de se estar vivo.

domingo, 6 de março de 2011

significante

foto Ansel Adams


Fenix queimando até o osso
penas auto-imputadas
guilhotinas ao pescoço
lâminas mal afiadas
golpes repetidos
reverberantes sonidos
palavras sem valor
vento, apenas vento
corpo convento
alma vapor
cidade sem casas
anjo sem asas
sol a se por,
sem cor.

A vida sem  amor.

sábado, 5 de março de 2011

AMOR REAL

Foto Richard Avedon

Despes-me aos pedaços
desenhos sem traços
vestes sem corpo
destino roto
incerzível amor.

Nu ao biombo
corpo é tombo
tombado patrimônio
irrecuperável amor.

Costuras de nuvens ao céu
noiva sem véu
fél de espumante
indeglutível amor.

Lua sem mel
pontes ao leo
ligam sóis a se por
imaginada cor
insustentável amor.

corpos em fenda
rota  renda
enfeite em alfinete
preso ao peito nu
sádico amor.

queima sem gas
doméstico Alcatraz
encinerado amor

nem sonho
nem céu
nem corpo
nem mel
nem mais fél
apenas amor.

Amor, amor, amor,
não serias tu sem este papel colorido
este presente com laço sofrido
bodas de dor...

amor, apenas o mais humano
insustetável, simples e insano
amor.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mulher de cordas

foto Sebastião Salgado
Ele a destroça todos os dias. Pela madrugada, pega seus ossos, os desmonta, um por um, a tíbia, o tarso, o fêmur, o púbis. Gosta de ver a coluna vertebral dela exposta, de alguma forma ele fica excitado ao ver aquele monte de pequenos fios pendurados no nada, expostos, tensos. Imagina como deve ser ver a eletricidade saltitando em cada feixe a cada vez que toca os pequenos fios que irão se juntar para formar os nervos, cordas tensas que movimentam o mundo. Imagina-a como um violoncelo, ele toca num fio, ela grita em dor maior. Sim, ela é uma orquestra inteira feita de músculos, ossos e nervos, reagindo  a cada movimento de sua batuta que ele agita apenas para vê-la convulsionar. E assim ele ocupa suas horas vazias, entre uma pauta e outra ele brinca com as pequenas notas pretas musicais que ela produz ao movimento de seus braços. E ela ali, passiva, dependurada pelo escalpo, o corpo pendente, os olhos brilhantes, destroçada do púbis ao calcâneo.  O tórax? O ventre? Ele não tem coragem de mexer, vá que de alguma costela surja algum outro ser, melhor deixar as costelas intactas, o ventre seco. Esta coisa de peito, tórax, abdome, não é para ele. ` Muita respiração, muita nutrição` ele pensa, `o ar é imponderável, os alimentos digeríveis´. Depois como que ela vai poder emitir sons se desmontar o pulmão? Como ela vai sobreviver se desmontar o ventre?´  Melhor brincar apenas com os nervos da coluna vertebral e os ossos abaixo do púbis´. Assim ele ensaia, tomando o cuidado de não esgotar a vitalidade, apenas de tempos em tempos montar e desmontar o arcabouço ósseo que a sustenta para quebrar o silêncio absoluto que vara suas incontáveis e monótonas  madrugadas, quando calam-se os estalares dos dedos na mesinha das partituras.  É bom ter um brinquedo de ossos, coxas e músculos para ter música à noite, sem o compromisso de acompanhar o rítmo do dia, apenas tocar Carmina Burana todas as madrugadas com os nervos da medula espinhal de uma mulher que respira.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Meditação

Foto Hansel Adams

Era um silêncio tão ensurdecedor que a alma ficava muda. Sim, o rimbombo da ausência de decibéis fazia-a sentir cada relâmpago elétrico na caixa craniana.  As pequenas faíscas que a constituíam inteira. Não era nada além de raios ricocheteantes nesta calota frágil, abóbada feita de duas tábuas de cálcio e vontade.  Na ausência de todos os outros sons, sobrou o EU, como sempre, circulando pelas teias de memórias, glórias e inglórias, anseios mal vividos, lembranças sussurradas aos ouvidos de um tempo além, refém dos outros, do inferno, do céu, dos becos e guetos onde passa a turba tocando tuba desafinada a toda brida na sua mente incontida, enquanto ela apenas uma valquíria guerreira sem cavalo ou escudo. Seria tão bom desligar o mundo e ligar o ventilador, ausentar-se do zumbido dos mosquitos de barriga cheia de sangue. Enrijecer os tímpanos exangues, calcifica-los com pequenas placas de `NÃO PERTUBE´ simplesmente ausentar-se da sala, tornar-se invisível, inlembrável, indizível, um raio de luz no meio do meio-dia, ser apenas um ruido na multidão, uma face sem rosto, sem gosto, mosto, resto no fundo do copo, que se esquece em uma manhã de ressaca. Ser apenas um elétron escapando de alguma sefhiró transbordante resultante de algum erro divino. Não preocupar-se com as médias, com  rédeas, com  línguas, que minguam frente ao essencial e se esbaldam extasiadas frente ao irrelevante. Seria tão mais simples ser um compêndio de ideias entre duas capas na estante, apenas existindo aprisionada na lombada de algum livro antigo, esquecida de tudo e todos apenas visível ao olhar de algum leitor ancião e sedentário interessado em livros que vivem além dos tempos e dos ventos que movem o mundo.

Texto de um amor doido



Ultimamente quando penso, penso em ti, quando respiro, piro, penso e pego um papiro qualquer, e tem teu nome e tem meu nome escrito junto com um asterisco explicando: mulher. Quando penso, é imenso e ao mesmo tempo cabe na palma da minha mão e lá tem uma linha, talvez mais de uma que se enrola e me contorna e forma teu nome. Nem sei bem se está lá, mas eu a vejo (preciso vê-la). Aí, para relaxar um pouco, eu penso e lá está a tela, teu sorriso pintado, teu céu azul que pisca para desviar meu olhar, que segundo tu é “poison” cor de "visón", destes bichinhos selvagens que existem pouco por serem raros e caros e desfilarem mortos por pescoços inconscientes. E, então, eu, para descansar, penso e sinto teu peito imenso palpitar dúvidas e insanidades, tão plausíveis de mundos invisíveis que orbitam loucos por órbitas que enxergam pela nuca. É uma forma de pensar maluca que é só minha, que não tem vizinha nem amigo para fofocar, uma forma minha, há muito sufocada, sem ar, mas que vive envolta em âmbar pelos séculos e séculos de esquecimento que minha alma carrega. Ela se derrete, esta pedra fóssil,  com o teu toque na minha fronte, então para mim aparece, defronte um futuro, que temes escuro e indizível, assim mesmo imprevisível, mas previsível qual o futuro é? Então  eu penso, e ilumino tudo que é escuridão, derreto-me ao toque da tua mão e explodo ao fechar de tua boca, um beijo. Então, triste, eu penso, entendo mesmo sem entender, que deve haver algum motivo, “extra-cognitivo” que mesmo pensando não entendo, mas aceito pois quero continuar sendo . Então, neste teu sorriso de loucura e sensatez dispo-me de conceitos, de barras de ferros, de erros de criação e moldes sociais. Quando, enfim, enquanto durmo, eu penso e quando acordo:  Eu SINTO, ufa!!!! Sinto e pressinto que somos mais, que somos barco, vela, vento e cais, que acabou de mim a dor e todos os ais, então eu-velha, morro, e renasço eu-criança, cheia de crença e esperança no teu abraço, e não desfaleço nem me desfaço, nunca, mas nunca mais. Abraço de quem ama forte, além da morte, que nasceu no berço dos iguais.