quinta-feira, 23 de agosto de 2012


EU MAIÚSCULO
(poema de escarnio e maldizer)

Eu falo do meu pé, do meu chulé, do meu umbigo
falo do mais banal que trago comigo
falo do pão, falo do vinho, do vizinho
falo do dia que passei ao ar marinho
falo bastante, falo sem pressa
falo, pois falar é o que interessa
falo, digo e repito
falo, vocifero, berro e grito
sou o rei do verbo
árbrito, público, jogador e apito
falo por três cabeça
como Cérbero ao Érbero
e sentado ao pé do inferno
vivo sem culpa
(afinal já estou além da idade adulta)
e assim vou atulhando de sons o vento
Sou o prepotente do verbo
o chato do momento.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Bebida divina




Porque o sofrimento é necessário?
Porque a dor é cenário de crescimento?
Porque a sabedoria vem junto com algum lamento?
Como?  Onde?
Se esconde a alegria?
Para que sofrer?
Porque não serenidade e sabedoria?
Luz de prata em noite alta
tempo ameno em  noite de folia?
Porque inferno, inverno e veneno?
Porque não apenas calmaria?
Porque nascer,
crescer, reproduzir e morrer?
Ciclos da vida?
Porque poucos com tanto
e tantos aos trancos e barrancos?
Justiça divina?
E o pecado original?
Porque Deus não inventou só o bem?
Não rasgou o projeto do mal?

Porque nada disso é em vão!
Nós somos grão,
e a vida?
Fermentação!

Hiiii,  ora veja!

Se bobear, para Deus
somos cerveja!