quinta-feira, 10 de maio de 2012

o essencial

                                      Foto Henri Cartier Bresson

queria falar-te de bravatas
de como se rompem gravatas
e colarinhos se alargam
queria poder dizer-te
de todas as saias caídas
de todas as meias desfiadas
e de várias horas perdidas
queria lembrar-te de entradas
de estradas e de saídas
das portar fechadas
e das janelas escondidas


queria dizer-te tanto
e no entanto
apenas posso dizer-te:

vida!

self

                                      Foto Henri Cartier Bresson 

Fui sabendo de mim
em cada pedaço de espelho
que deixei pelo caminho
fui sabendo de mim
em cada flor
em cada espinho
fui sabendo de mim
em cada eco de minha voz
fui sabendo de mim
apenas de mim após.

além de mim

                                                 Jung por Cartier Bresson
                                               
já caminho lento
ao sol poente
a vida é urgente
o tempo hostil
cavalo alado
pensamento calado
voa pelos céus de abril
apenas flor
nos meus pés descalços
apenas orvalho
em meu peito senil
amanheço vida
adormeço morte
e com muita sorte
acordarei no vazio.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

melhor mesmo é...

                                           foto Henri Cartier Bresson

Não faltam papoulas em meus olhos de noite colorindo o espaço. Este laço feito de ar que une todos os cantos do universo. Porque somos tão iguais e originais? Pequenos origamis do mesmo papel dependurados no teto do mundo para enfeitar a festa. Porque somos inflamáveis, instáveis, consumíveis e combustíveis? Não creio que tenho talento para ser fóssil, mineral, é muito ar na minha cabeça e fogo nos meus pés, não nasci para a imobilidade do metal, nasci papel. Mas insisto, nessa inefável e obrigatória igualdade que a originalidade repele e ao mesmo tempo obrigatoriamente me catapulta para além dos muros do castelo. Mas na verdade castelo não me interessa pois não tenho pressa em parar de galgar os campos, melhor é não ter muros, nem furos por onde escorram os prantos ou arestas que escondam os cantos escuros de cada peça deste quebra-cabeça sem figura ainda definida. Prefiro as pradarias e o vapor quente do forno das padarias, isso sim me alimenta enquanto o vento não me envia a outros espaços, eu, volátil Corcel sem sela ou coronel, selvagem, cavalgando esta miragem que é a praia povoada de seres e deserta. Melhor não ser nada do que previsível e certa. Melhor não ter nome, para não aumentar a fome e devorar os próprios filhos em busca de mais brilhos e paetês.
Melhor mesmo é se fazer de louca do que morrer tentando responder os porquês...

que bom que fosse


                                      Foto Henri Cartier Bresson
                                     
Seria melhor que fosse uma flauta, não uma falta, quem sabe uma flor. Melhor seria que tivesse caule, não jaule e  cáustico calor. Bom mesmo se fosse feito de algodão, que fosse mágico como condão e que não houvesse pecado nem na bíblia ou no alcorão. Melhor então se fosse de verdade, quem sabe de concreto, que viesse com uma palavra, explicando: certo. Porém é como convém, nem sempre, nem nunca, talvez ou nem. Apenas seria necessário, que fosse libertário, mesmo do avesso, ao contrário, que não fosse apenas imaginário, que pulasse da janela, que no escuro fosse capaz de acender uma vela, ou um raio laser ou um lampião? Seria imprescindível que voasse alto do chão, que fosse capaz de imaginar faces em nuvem em plena tarde de verão. Teria que ser colorido, não dolorido, nem preso com arame farpado, teria que ser sem muros, ao lado, um gramado verde molhado pelo orvalho em meu pé no chão. Teria que ser amor, não apenas breve paixão.


flores nos dedos
polinizam palavra
poesia é lavra.

o mais belo que há


                                               Foto henri Cartier Bresson
                                               
o mais belo que há
foi gestado no ventre da noite
parido na aurora
amamentado pelo sol
acalentado pelo ar
o mais belo que há
está em tudo que não se cabe
em tudo que não se sabe
que não se vê
o mais belo que há
está no campo de cada percepção
belo para mim é o amor
e sua mágica ilusão.

sábado, 5 de maio de 2012

Ledo engano

                                       foto Henri Carier Bresson
                                       
Ela queria ser conquistada
plaft,
uma bofetada
calor na face
cabeçada de alce
guerra de poder
ela queria ser conquistada
ele?
foder!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

DAMAGED


                                                                                                                         Foto: Walker Evans, 1930







Dispares sons sem certeza
arrítmicos aos aflitos ouvidos
Zunidos
Em formas de versos
Perversos sons

Descarte

Voz de alma sombria
Alguns chamam de arte
Eu de agonia