sexta-feira, 29 de abril de 2011

Engano


 Foto: Hansel Adams

Tropeço passo
no escravo vício
este, de olhar precipício,
e achar-se falena
nua, vestida de vida colorida
achando que tudo vale a pena.
jogando-se ao ar,  inteira
pois afinal viver é voar
e não apenas ficar à beira.

Inconsciência

Foto: Sebastião Salgado



Desconstrói-se o universo em mil delírios
Quem diz que é concreta a estrela e seus brilhos?
Não! O céu é apenas um momento de ilusão.
São as filhas que nasceram de uma explosão.
Mas os desavisados homens na crosta do planeta
Não sabem a diferença entre as  estrelas e um cometa.
E vão dia a dia com persistência e energia
Povoando a vida em trajetória de gameta
como se o mundo fosse uma orgia
e a terra uma simples gaveta.
 

Destino

 Foto: Henri Cartier Bresson

Doi-me este cansaço
que carrego desde o berço
como se sempre faltasse um pedaço
ou que foi errado o começo
sempre a sentir-me julgada
sempre a porem-me um preço
sempre cinzelada e moldada
como se fosse um afresco

quando serei rainha na minha morada?
será que viverei sempre ao avesso?
quando serei amada?
Será que o amor desconheço?
ou viverei sempre exilada
deste paraíso que não conheço.
acho que a vida me foi enviada
porém trocaram o endereço.

Mulher comum

Foto; Henri Cartier Bresson



Trespassa-me os dias esta sensação vazia
As noites? Apenas travessias
Do aquém ao além
Na verdade não passo de um orgânico trem no trilho
Chuc, chuc, chuc, chuc, dia e noite
Monótono estribilho.
O que eu queria?
Ser uma estrela que brilha
Uma explosão viajante
Luz arremessada com força
Iluminando os céus de algum lugar distante.
Queria também ser ventania
O ar invisível correndo
Transparente e louca
De forma imprevisível
Falar mesmo sem  boca
Sussurrar  a todos os ouvidos o indizível!

Mas sou apenas uma mulher que luta
 levanta cedo, Sua, lava, labuta
 cozinha o medo, ama, cora, não pergunta
sobrevive de forma previsível
(e ao mesmo tempo é tudo em seu mundo
 invisível)

domingo, 17 de abril de 2011

do que é feito?



De passos e preços é feito o caminho
De feitos e fatos é a palha do ninho
Passarinho sem asa
Preso à casa
Sem rio, sem mar
Envolto em fio de linho
Esperando o tempo findar
E enfim poder voar não mais sozinho.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Meus olhos já viram demais

Meu olhos já viram demais
olhos que se abrem para o infinito
primeira luz
olhos para o nunca mais
olhos do adeus finito
matéria que se torna etérea
brilho que não mais reluz
Meus olhos já viram demais
violência que ultrapassa a ciência
luta que não mais seduz
Meus olhos já viram demais
atropelados momentos
sufocados sentimentos
a vida é além e aquém, demais
a morte apenas uma cruz
um momento na encruzilhada
uma parada isolada 
eu e meus olhos
perdidos ao cais
por já terem visto demais
e demais ser o que a vida me traduz.