É tanto ego, tanto prego e tanta cruz
tanto excesso, tanto abscesso, tanto pus
tanto cego, tanto surdo, tão pouca luz
E nesta estrada, gente errada
pregando placa que não conduz.
Onde é o oceano
que desagua este rio humano?
O caminho é processo
que se está imerso
destilada ação.
Calda de almas
em um grande tanque de decantação.
Apenas grãos
em pútreda fermentação.
Mundo, um grande caldo,
um caldeirão.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
EU MAIÚSCULO
(poema de escarnio e maldizer)
Eu falo do meu pé, do meu chulé, do meu umbigo
falo do mais banal que trago comigo
falo do pão, falo do vinho, do vizinho
falo do dia que passei ao ar marinho
falo bastante, falo sem pressa
falo, pois falar é o que interessa
falo, digo e repito
falo, vocifero, berro e grito
sou o rei do verbo
árbrito, público, jogador e apito
falo por três cabeça
como Cérbero ao Érbero
e sentado ao pé do inferno
vivo sem culpa
(afinal já estou além da idade adulta)
e assim vou atulhando de sons o vento
Sou o prepotente do verbo
o chato do momento.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Bebida divina
Porque o sofrimento é necessário?
Porque a dor é cenário de crescimento?
Porque a sabedoria vem junto com algum lamento?
Como? Onde?
Se esconde a alegria?
Para que sofrer?
Porque não serenidade e sabedoria?
Luz de prata em noite alta
tempo ameno em noite de folia?
Porque inferno, inverno e veneno?
Porque não apenas calmaria?
Porque nascer,
crescer, reproduzir e morrer?
Ciclos da vida?
Porque poucos com tanto
e tantos aos trancos e barrancos?
Justiça divina?
E o pecado original?
Porque Deus não inventou só o bem?
Não rasgou o projeto do mal?
Porque nada disso é em vão!
Nós somos grão,
e a vida?
Fermentação!
Hiiii, ora veja!
Se bobear, para Deus
somos cerveja!
terça-feira, 10 de julho de 2012
Deixar rolar
As vezes tem que deixar desinflar
esvaziar, "vazi-ar", vazar.
Deixar escorrer,
não reter
ficar ao sol
derreter.
As vezes é apenas questão
de insuflar, atear,
"artear"
deixar de surtar
dormir
acordar.
Amanhã-ser.
esvaziar, "vazi-ar", vazar.
Deixar escorrer,
não reter
ficar ao sol
derreter.
As vezes é apenas questão
de insuflar, atear,
"artear"
deixar de surtar
dormir
acordar.
Amanhã-ser.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Fisiologismo sobrevivente
Quantas questões permeiam as voltas que fazem os dias...
Quantas revoluções envoltas nos pulsos avulsos dos peitos abismais...
Batismos celestiais de cada pensamento pagão mergulham em corpo são.
"Mens"insana!
Profana tinta rubra pulsa e perturba a frágil sanidade.
Não seria tão mais fisiológico não pensar?
Viver a emprenhar desejos, consumos vãos, que escorrem pelas mãos, areia fina na ampulheta de cada ser.
Mais fácil perecer.
Girar como gira o mundo, entontecer, prescindir, relaxar e viver.
Quantas revoluções envoltas nos pulsos avulsos dos peitos abismais...
Batismos celestiais de cada pensamento pagão mergulham em corpo são.
"Mens"insana!
Profana tinta rubra pulsa e perturba a frágil sanidade.
Não seria tão mais fisiológico não pensar?
Viver a emprenhar desejos, consumos vãos, que escorrem pelas mãos, areia fina na ampulheta de cada ser.
Mais fácil perecer.
Girar como gira o mundo, entontecer, prescindir, relaxar e viver.
domingo, 1 de julho de 2012
Incoercível
Primeiro era o alvoroço,
beijo no pescoço
adrenalina, arrepio
depois veio a comodidade
passou a idade da loba no cio
agora é a melhor parte:
A arte
de ser feliz com um bom livro
num dia de chuva e frio.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Feminismo ou eufemismo?
Matar um leão por dia
na mais pura alegria.
Não basta!
Mesmo cansada e gasta
tem que tirar a pele,
fingindo que cansaço não fere,
cortar pedaço à pedaço
embrulhar com laço
ágil, faceira e ligeira
depois limpar toda a sujeira.
E, como se não bastasse,
depois de tudo feito
deitar sorridente ao leito
posando de musa contente
rubra, fogosa e quente
usar o Kama Sutra inteiro
prevenindo o sexo rotineiro.
Agora por favor,
antes que eu desista
me digam qual a vantagem
de ser mulher feminista
além da grande miragem
da liberdade,
que nunca se conquista.
na mais pura alegria.
Não basta!
Mesmo cansada e gasta
tem que tirar a pele,
fingindo que cansaço não fere,
cortar pedaço à pedaço
embrulhar com laço
ágil, faceira e ligeira
depois limpar toda a sujeira.
E, como se não bastasse,
depois de tudo feito
deitar sorridente ao leito
posando de musa contente
rubra, fogosa e quente
usar o Kama Sutra inteiro
prevenindo o sexo rotineiro.
Agora por favor,
antes que eu desista
me digam qual a vantagem
de ser mulher feminista
além da grande miragem
da liberdade,
que nunca se conquista.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Olhando de fora
O peito estufa
A alma bufa
A vida esgota
A estrada é torta
O destino incerto.
E nós?
Insetos no formigueiro.
O mundo um grande cativeiro.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
o essencial
Foto Henri Cartier Bresson
queria falar-te de bravatas
de como se rompem gravatas
e colarinhos se alargam
queria poder dizer-te
de todas as saias caídas
de todas as meias desfiadas
e de várias horas perdidas
queria lembrar-te de entradas
de estradas e de saídas
das portar fechadas
e das janelas escondidas
queria dizer-te tanto
e no entanto
apenas posso dizer-te:
vida!
queria falar-te de bravatas
de como se rompem gravatas
e colarinhos se alargam
queria poder dizer-te
de todas as saias caídas
de todas as meias desfiadas
e de várias horas perdidas
queria lembrar-te de entradas
de estradas e de saídas
das portar fechadas
e das janelas escondidas
queria dizer-te tanto
e no entanto
apenas posso dizer-te:
vida!
self
Foto Henri Cartier Bresson
Fui sabendo de mim
em cada pedaço de espelho
que deixei pelo caminho
fui sabendo de mim
em cada flor
em cada espinho
fui sabendo de mim
em cada eco de minha voz
fui sabendo de mim
apenas de mim após.
Fui sabendo de mim
em cada pedaço de espelho
que deixei pelo caminho
fui sabendo de mim
em cada flor
em cada espinho
fui sabendo de mim
em cada eco de minha voz
fui sabendo de mim
apenas de mim após.
além de mim
Jung por Cartier Bresson
já caminho lento
ao sol poente
a vida é urgente
o tempo hostil
cavalo alado
pensamento calado
voa pelos céus de abril
apenas flor
nos meus pés descalços
apenas orvalho
em meu peito senil
amanheço vida
adormeço morte
e com muita sorte
acordarei no vazio.
já caminho lento
ao sol poente
a vida é urgente
o tempo hostil
cavalo alado
pensamento calado
voa pelos céus de abril
apenas flor
nos meus pés descalços
apenas orvalho
em meu peito senil
amanheço vida
adormeço morte
e com muita sorte
acordarei no vazio.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
melhor mesmo é...
foto Henri Cartier Bresson
Não faltam papoulas em meus olhos de noite colorindo o espaço. Este laço feito de ar que une todos os cantos do universo. Porque somos tão iguais e originais? Pequenos origamis do mesmo papel dependurados no teto do mundo para enfeitar a festa. Porque somos inflamáveis, instáveis, consumíveis e combustíveis? Não creio que tenho talento para ser fóssil, mineral, é muito ar na minha cabeça e fogo nos meus pés, não nasci para a imobilidade do metal, nasci papel. Mas insisto, nessa inefável e obrigatória igualdade que a originalidade repele e ao mesmo tempo obrigatoriamente me catapulta para além dos muros do castelo. Mas na verdade castelo não me interessa pois não tenho pressa em parar de galgar os campos, melhor é não ter muros, nem furos por onde escorram os prantos ou arestas que escondam os cantos escuros de cada peça deste quebra-cabeça sem figura ainda definida. Prefiro as pradarias e o vapor quente do forno das padarias, isso sim me alimenta enquanto o vento não me envia a outros espaços, eu, volátil Corcel sem sela ou coronel, selvagem, cavalgando esta miragem que é a praia povoada de seres e deserta. Melhor não ser nada do que previsível e certa. Melhor não ter nome, para não aumentar a fome e devorar os próprios filhos em busca de mais brilhos e paetês.
Melhor mesmo é se fazer de louca do que morrer tentando responder os porquês...
Não faltam papoulas em meus olhos de noite colorindo o espaço. Este laço feito de ar que une todos os cantos do universo. Porque somos tão iguais e originais? Pequenos origamis do mesmo papel dependurados no teto do mundo para enfeitar a festa. Porque somos inflamáveis, instáveis, consumíveis e combustíveis? Não creio que tenho talento para ser fóssil, mineral, é muito ar na minha cabeça e fogo nos meus pés, não nasci para a imobilidade do metal, nasci papel. Mas insisto, nessa inefável e obrigatória igualdade que a originalidade repele e ao mesmo tempo obrigatoriamente me catapulta para além dos muros do castelo. Mas na verdade castelo não me interessa pois não tenho pressa em parar de galgar os campos, melhor é não ter muros, nem furos por onde escorram os prantos ou arestas que escondam os cantos escuros de cada peça deste quebra-cabeça sem figura ainda definida. Prefiro as pradarias e o vapor quente do forno das padarias, isso sim me alimenta enquanto o vento não me envia a outros espaços, eu, volátil Corcel sem sela ou coronel, selvagem, cavalgando esta miragem que é a praia povoada de seres e deserta. Melhor não ser nada do que previsível e certa. Melhor não ter nome, para não aumentar a fome e devorar os próprios filhos em busca de mais brilhos e paetês.
Melhor mesmo é se fazer de louca do que morrer tentando responder os porquês...
que bom que fosse
Seria melhor que fosse uma flauta, não uma falta, quem sabe uma flor. Melhor seria que tivesse caule, não jaule e cáustico calor. Bom mesmo se fosse feito de algodão, que fosse mágico como condão e que não houvesse pecado nem na bíblia ou no alcorão. Melhor então se fosse de verdade, quem sabe de concreto, que viesse com uma palavra, explicando: certo. Porém é como convém, nem sempre, nem nunca, talvez ou nem. Apenas seria necessário, que fosse libertário, mesmo do avesso, ao contrário, que não fosse apenas imaginário, que pulasse da janela, que no escuro fosse capaz de acender uma vela, ou um raio laser ou um lampião? Seria imprescindível que voasse alto do chão, que fosse capaz de imaginar faces em nuvem em plena tarde de verão. Teria que ser colorido, não dolorido, nem preso com arame farpado, teria que ser sem muros, ao lado, um gramado verde molhado pelo orvalho em meu pé no chão. Teria que ser amor, não apenas breve paixão.
o mais belo que há
Foto henri Cartier Bresson
o mais belo que há
foi gestado no ventre da noite
parido na aurora
amamentado pelo sol
acalentado pelo ar
o mais belo que há
está em tudo que não se cabe
em tudo que não se sabe
que não se vê
o mais belo que há
está no campo de cada percepção
belo para mim é o amor
e sua mágica ilusão.
sábado, 5 de maio de 2012
Ledo engano
foto Henri Carier Bresson
Ela queria ser conquistada
plaft,
uma bofetada
calor na face
cabeçada de alce
guerra de poder
ela queria ser conquistada
ele?
foder!
Ela queria ser conquistada
plaft,
uma bofetada
calor na face
cabeçada de alce
guerra de poder
ela queria ser conquistada
ele?
foder!
quarta-feira, 2 de maio de 2012
DAMAGED
Foto: Walker Evans, 1930
Dispares sons sem certeza
arrítmicos aos aflitos ouvidos
Zunidos
Em formas de versos
Perversos sons
Descarte
Voz de alma sombria
Alguns chamam de arte
Eu de agonia
sábado, 21 de abril de 2012
Olhando de longe
Foto Vana
Pasmo reflexo tem em mim. Ato finito. Estranho, alheio e aflito. Pequeno alfinete que gera afônico grito, guerra sem conflito que se deflagra no espaço escaço deste estranho elo que nem aquece ou gela, água morna, arroz sem sal, nem luz, nem escuridão, nem sequer mal. Apenas palidez e pequenez. Eu até me divirto, acho engraçado o rufar entusiasmado de um fiel e caricato bumbo solitário, carente, que obeso bate palma alto para tentar apagar seu próprio som na tentativa de dar passagem à pálida e decadente cadência de uma caixinha de fósforo que jamais será música, no máximo descompasso, muito embora compre caro uma placa de açúcar mascavo dizendo: ouro! Se dilui na primeira chuva, por que mesmo a bom preço jamais será metal, é passagem comprada em horário perdido. Tenho pena dos lúcidos e sua vã tentativa de unificar os surdos já que os mudos nunca falarão, muito embora conheçam bem todas as letras, apenas não querem perder tempo com os cegos que gritam na escuridão de seus umbigos desesperados pela lembrança de seus egos presos por pregos martelados na cruz realidade enquanto galgam o calvário com os pés sangrando mediocridade. Que posso dizer? Além de que não trago nada comigo além de um verso e um nada perverso motivo para cantarolar com o infinito. Não me oponho a comer abelhas nem dizer que amo zangados zangões, até me divirto enquanto cuspo pedaços de telhas dos telhados das pessoas alheias que desfilam inconscientes nesta ferina nuvem de purpurina. Mas quer saber? Pouco importa, mesmo que os cães ladrem a caravana jamais será morta. Mais vale ficar aqui, do alto da minha Duna, bebendo do oásis, brincando com reis e com a manga cheia ases, cantarolando estrofes. Liberdade irrestrita de viajar fusos horários, estar longe de carcerários desejos. Porque aflição se pode ser união? Tem gente que não vê a felicidade entregue à porta aos potes prefere a luz fria e solitária dos holofotes, enquanto mais vale o calor de uma vela e um rosto amigo pendurado na lapela desfilando pelo mundo. A vida é uma grande brincadeira, melhor é amar, sonhar, rir de tudo, não se importar, que ficar cultivando rancor, perdendo amigos e a cor. Porém que fazer, além rir, não cultivar dor, valorizar o essencial e pedir a Deus que nos livre de todo o mal?
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Tudo
FOTO HENRI CARTIER BRESSON
ferro incandescente
estrela cadente
chuva que cai
lua minguante
maré cheia
onda que vai
pulso de veia
vida
gelo
cáustico calor
pele em brasa
corpo em pelo
suor, odor
melhor e pior
frio, palidez, cor
perdida asa
voo ao infinito
o amor
é tudo,
e é tão bonito.
ferro incandescente
estrela cadente
chuva que cai
lua minguante
maré cheia
onda que vai
pulso de veia
vida
gelo
cáustico calor
pele em brasa
corpo em pelo
suor, odor
melhor e pior
frio, palidez, cor
perdida asa
voo ao infinito
o amor
é tudo,
e é tão bonito.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Estar só
FOTO Henri Cartier Bresson
Desatar nó
romper cordão
ser dissoluta
para saber união
absoluta
percepção
borboleta
precisa-se pupa
beleza da luz
moldura de escuridão.
Desatar nó
romper cordão
ser dissoluta
para saber união
absoluta
percepção
borboleta
precisa-se pupa
beleza da luz
moldura de escuridão.
domingo, 1 de abril de 2012
Depois que passa
Foto Hansel Adams
Grão no meio do peito
areia,
defeito
dor
pérola
apenas depois
de muito sol nascer
e se por.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Morte
Foto Martin Chambi
E me sorri a morte
invencível
seus dentes devoram a luz
incoercível
louça partida
antônimo da vida
sobra o corpo
ator sem movimento
apenas inerte lembrança
caminhando ao esquecimento.
E me sorri a morte
invencível
seus dentes devoram a luz
incoercível
louça partida
antônimo da vida
sobra o corpo
ator sem movimento
apenas inerte lembrança
caminhando ao esquecimento.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
universo pessoal
Foto: Ansel Adams
Queimam-me as pálpebras
lembranças incandescentes
estrelas cadentes
de meu céu de memórias
rotas de histórias
constelações infinitas
buracos negros de desditas
devorando cada não-ação
super novas em revolução
luzes de um futuro
no firmamento escuro
pensamentos satélites
girando em translação.
sol de ilusão
lua refletindo em solidão
sobram-me as luzes
e as trajetórias inerciais
de tantos inícios
e finais fatais...
Queimam-me as pálpebras
lembranças incandescentes
estrelas cadentes
de meu céu de memórias
rotas de histórias
constelações infinitas
buracos negros de desditas
devorando cada não-ação
super novas em revolução
luzes de um futuro
no firmamento escuro
pensamentos satélites
girando em translação.
sol de ilusão
lua refletindo em solidão
sobram-me as luzes
e as trajetórias inerciais
de tantos inícios
e finais fatais...
domingo, 12 de fevereiro de 2012
Fugaz
Foto Henri Cartier Bresson
Sangram-me os poros
Sangram-me os poros
este suor de luta
e a inconsciência
absorve o cansaço
da labuta
sangra-me o mundo
gira, eu parada
apatia da vida
a vida é nada
estalar de um gatilho
sai do trilho
sangra o mundo
a dor é real
metal matando
a vida imaginada.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
O que sobra?
Foto: Matisse fotografado por Cartier Bresson
O que sobra depois que se vai
a força dos cinzéis?
A obra?
Ou as críticas brandas
e os elogios cruéis?
O que sobra?
Quando não mais interessam
o nome dos coronéis
quando proeminente
é a solidão da flor
o que sobra?
O amor?
A beleza?
Depois que pele dobra
e a coluna curva
e estão todas as cartas à mesa?
sobra por acaso algum ocaso
além da noite escura?
(única certeza)
sobra a embriaguez da vida por inteiro
cheiro de chuva na terra de fevereiro.
Afinal,
O que é vinho
senão o tempo
matando a uva,
esplendor de seu gosto derradeiro.
O que sobra depois que se vai
a força dos cinzéis?
A obra?
Ou as críticas brandas
e os elogios cruéis?
O que sobra?
Quando não mais interessam
o nome dos coronéis
quando proeminente
é a solidão da flor
o que sobra?
O amor?
A beleza?
Depois que pele dobra
e a coluna curva
e estão todas as cartas à mesa?
sobra por acaso algum ocaso
além da noite escura?
(única certeza)
sobra a embriaguez da vida por inteiro
cheiro de chuva na terra de fevereiro.
Afinal,
O que é vinho
senão o tempo
matando a uva,
esplendor de seu gosto derradeiro.
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Vida fácil
Foto Henri Cartier Bresson
Tão fácil ser confiante dentro do útero da mãe terra. Feto plácido na certeza da nutrição. Não há esforço além da certeza do amor alheio. Não há necessidade de preocupação, apenas prazer e diversão. Brincar de vida, correr pelos dias sem a preocupação do agasalho, alimentar-se na medida da fome, beber na medida da sede, nada falta. Homeostase da gênese, irresponsabilidade orgânica, apenas nutrir-se do mundo, ser planta selvagem em floresta luxuriante tropical, prazer da chuva, apenas criar raízes que o tempo trás em bandeja de ouro o sustento.
Tão bom não preocupar-se e ter apenas o corpo como obrigação e o universo como alento.
Tão fácil o despertar pois o adormecer é apenas um suspiro, amanhã? Deus dará!
Libertação
Já não me aprisiono mais entre quatro paredes, como poderia? Apenas estrelas brilhando em um infinito negro, agora meu corpo. Já não me alcança mais o tato e mais nenhum ato me desafia, toda a multidão contida em um jorro de espermas não mais me alcança, sou ave. O céu é corpo e no olhar o brilho da lua que reflete um sol distante, não mais sou satélite, sou solidão das órbitas intocáveis que habitam meus dias. Apenas vislumbro a inércia dos astros nutrindo-se do caminho que naturalmente os impulsiona (é bom ser astro) sem o esforço de uma formiga trabalhadora. Para que ser formiga? Prefiro a imensidão do espaço que a macicez do galho de uma acácia para nutrir-me, o vento é apenas uma circunstância inexistente no vácuo, não mais fator determinante, eu determino, pois sou eu agora astro viajando em um sonho de algum menino.
infinito finito em um olhar
Foto Henri Cartier Bresson
E se derramaram os olhos
um só oceano
infinito
todo o mundo em um só olhar
e o mar
que sussurrava
súplicas de uma estreiteza proibida
o ar
perfazendo os giros dos dias
que seriam eternos
ternos, infinitos
e tudo foi tão amplo
e tão fugaz
e se derramaram os olhos
até a visão acabar.
E se derramaram os olhos
um só oceano
infinito
todo o mundo em um só olhar
e o mar
que sussurrava
súplicas de uma estreiteza proibida
o ar
perfazendo os giros dos dias
que seriam eternos
ternos, infinitos
e tudo foi tão amplo
e tão fugaz
e se derramaram os olhos
até a visão acabar.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
EU NÃO SABIA
Foto Henri Cartier Bresson
Eu que pensava ser corrente, mas era apenas uma pétala de flor destinada ao solo para adubar semente.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Tanto faz
Foto Ansel Adams
No meu peito uma floresta de aço, sem ação, estático estalido metálico pulsa o pulso da vida, sem razão.
E, todas as manhas queria beber vinho, mas é o diesel que me lubrifica as veias. Invejo as sereias e seus lindos rabos propulsores, as sereias não precisam de motores (nem de vagina) por isso mitológicas mesmo que trájicas e ilójicas por preferirem os homens aos tubarões. Na verdade prefiro tufões, este que arrasam mundos e desrrespeitam todos os relevos. Porém, tanto faz...
No meu peito uma floresta de aço, sem ação, estático estalido metálico pulsa o pulso da vida, sem razão.
No meu peito uma floresta de aço, sem ação, estático estalido metálico pulsa o pulso da vida, sem razão.
E, todas as manhas queria beber vinho, mas é o diesel que me lubrifica as veias. Invejo as sereias e seus lindos rabos propulsores, as sereias não precisam de motores (nem de vagina) por isso mitológicas mesmo que trájicas e ilójicas por preferirem os homens aos tubarões. Na verdade prefiro tufões, este que arrasam mundos e desrrespeitam todos os relevos. Porém, tanto faz...
No meu peito uma floresta de aço, sem ação, estático estalido metálico pulsa o pulso da vida, sem razão.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
liberdade possível
Foto Ansel Adams
Limites, muros, bordas?
Limites, muros, bordas?
cordas de verbos
atam servos à materialidade
estar limitado:
apanágio da realidade!
liberdade?
serva da vontade.
alforria?
apenas uma ação:
imaginação.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Descoberta
Foto: Ansel Adams
vasculhei frestas
cuspi arestas
respirei gases
rasguei ases
bebi azias
me equilibrei
entre o que quero
e o que querias
resisti bravamente!
apenas para descobrir
que sou soberana
neste reino
Verdade
Foto Henri Cartier Bresson
Pouco importa!
Quem bate à porta
ou quem entorta a reta
pouco importa
a face morta
na roupa e na hora certa
não me importa
o sorriso vil
no aconchego hostil
do úmido covil
ver e ser visto
deserto que desisto
pouco importa
se a vagina é nobre
ou se a rima é pobre
Importa?
O aplauso automático
do espectador estático
expectando extático
parado,
no êxtase comprado
pago e importado
vendido com letreiros:
QUALIDADE!!!?
Propagado por
megafones conjugais
que vendem verdades,
oportunamente casuais.
Apenas me importa
o mundo para dentro de minha porta
meu grande achado:
o amor que dorme ao meu lado.
sábado, 21 de janeiro de 2012
Conceitos
Foto Henri Cartier Bresson
Me cansam as retas
As curvas
E as curvaturas
Da verdade
de cada visão.
Mentiras?
Delicadas roupas
Feitas de crepom
Na chuva da realidade
Despindo a alma
Do que é bom.
Amor
Amor
Foto Henry Cartier Bresson
O amor escorre,
é líquido
vai pelo ralo do tempo.
O amor?
É apenas um momento.
Assinar:
Postagens (Atom)