sábado, 21 de abril de 2012

Olhando de longe


                                                      Foto Vana

Pasmo reflexo tem em mim. Ato finito. Estranho, alheio e aflito. Pequeno alfinete que gera afônico grito, guerra sem conflito que se deflagra no espaço escaço deste estranho elo que nem aquece ou gela, água morna, arroz sem sal, nem luz, nem escuridão, nem sequer mal. Apenas palidez e pequenez. Eu até me divirto, acho engraçado o rufar entusiasmado de um fiel e caricato bumbo solitário, carente, que obeso bate palma alto para tentar apagar seu próprio som na tentativa de dar passagem à pálida e decadente cadência de uma caixinha de fósforo que jamais será música, no máximo descompasso, muito embora compre caro uma placa de açúcar mascavo dizendo: ouro! Se dilui na primeira chuva, por que mesmo a bom preço jamais será metal, é passagem comprada em horário perdido. Tenho pena dos lúcidos e sua vã tentativa de unificar os surdos já que os mudos nunca falarão, muito embora conheçam bem todas as letras, apenas não querem perder tempo com os cegos que gritam na escuridão de seus umbigos desesperados pela lembrança de seus egos presos por pregos martelados na cruz realidade enquanto galgam o calvário com os pés sangrando mediocridade. Que posso dizer? Além de que não trago nada comigo além de um verso e um nada perverso motivo para cantarolar com o infinito. Não me oponho a comer abelhas nem dizer que amo zangados zangões, até  me divirto enquanto cuspo pedaços de telhas dos telhados das pessoas alheias que desfilam inconscientes nesta ferina nuvem de purpurina. Mas quer saber? Pouco importa, mesmo que os cães ladrem a caravana jamais será morta. Mais vale ficar aqui, do alto da minha Duna, bebendo do oásis, brincando com reis e com a manga cheia ases, cantarolando estrofes. Liberdade irrestrita de viajar fusos horários, estar longe de carcerários desejos. Porque aflição se pode ser união? Tem gente que não vê a felicidade entregue à porta aos potes prefere a luz fria e solitária dos holofotes, enquanto mais vale o calor de uma vela e um rosto amigo pendurado na lapela desfilando pelo mundo. A vida é uma grande brincadeira, melhor é amar, sonhar, rir de tudo, não se importar, que ficar cultivando rancor, perdendo amigos e a cor. Porém que fazer, além rir, não cultivar dor,  valorizar o essencial  e pedir a Deus que nos livre de todo o mal?