Eu tenho medo...
Sobretudo medo
de mais um engano ledo,
de ser envolvida
por algum miasma
de alguma substância química e fantasma.
Eu tenho medo...
De cada porta batida
de cada fragmento de vida
que me volta a memória.
Tenho medo da História!
Tenho medo deste momento
de cada movimento lento
de cada objeto
Tenho medo!
Tenho medo de cada surreal conto abjeto
de arroubos de afeto e pesadelos.
Tenho medo, tenho medo de tê-los!
Tenho medo de cada nome
que toque o telefone
no meio da noite, insone…
tenho medo.
Tenho medo que caia o teto
que a casa caia
tenho medo que o espectro que vaia
o nosso passado com riso debochado
me pulverize com esta ruidosa risada jocosa...
Tenho medo
Tenho medo que,
de tanto medo do espinho,
eu me furte à imortal e exótica beleza da rosa,
tenho medo que por temer o amor
mate a poesia
para viver eternamente em linear prosa…